Sou de Coimbra, tenho 33 anos e tirei o curso de Gestão na Universidade de Coimbra. Vim viver para Lisboa há 10 anos atrás para ter a minha primeira experiência profissional e por cá continuo. No meu (ainda curto) percurso profissional, tive a oportunidade de passar por várias áreas, entre controlo interno, gestão de projectos, e finalmente a área financeira. Foi nesta última área que fortaleci o meu background profissional, com funções como business analyst e controller. Durante 6 anos, desenvolvi o gosto por números, pela análise financeira e pela função de business partner, que, no fundo, se concretiza em apoio ao negócio. Fui crescendo continuamente, procurando sempre mais conhecimento e competências em áreas adicionais, e acabei por conseguir uma promoção como controller de marketing, uma posição financeira que ia ser o primeiro passo de uma grande mudança.
Lembro-me do meu Director Financeiro me parabenizar quando assumi a função: “Parabéns pelo novo desafio! Onde é que te vês daqui a 5 anos?” Na altura achei a pergunta completamente despropositada – estava prestes a começar um novo desafio, estava concentrada no imediato. Nem percebi o impacto que a pergunta acabou por ter em mim. Acho que foi a primeira vez que pensei a sério sobre o que estaria a fazer e o que queria para daí a 5 anos a nível profissional. Queria manter-me na área financeira, ser promovida e, um dia, eventualmente, ocupar o lugar da minha chefe? Comecei a perceber que não me via inteiramente naquela área. Queria definir direções e estratégias, manter o contato com pessoas – adoro pessoas! - mas não queria deixar o meu lado financeiro, que tinha desenvolvido e do qual gostava bastante.
Fiz um exercício que uso muito: escrever. Escrevi o que gostava, o que não gostava, o que queria e o que não queria. Li e reli. Depois de ter conseguido a promoção, tinha iniciado um mestrado em marketing estratégico com o intuito de ser melhor financeira, melhor controller de marketing. Na minha reflexão acabei por perceber que talvez o meu subconsciente já estivesse a tentar mostrar-me outros caminhos. Entendi também que o meu background financeiro será sempre uma vantagem competitiva em qualquer carreira e que não iria ficar perdido.
Não sei ao certo qual foi o dia em que tomei a decisão: queria mudar para a área de marketing. Cheguei à conclusão que poderia ter tudo o que queria nesta área, da qual estava cada vez mais perto graças à promoção e ao mestrado. Queria fazer gestão de marca, ter maior impacto na estratégia do negócio. Ia ter que começar do zero aos 30 anos, e depois de quase 7 anos a investir noutra área ia sair da minha zona de conforto. Nas contas a longo prazo era o que fazia sentido, e era o que o meu exercício e intuição diziam. Assustador? Sim. Certezas? Poucas. Estava a planear dar passos atrás. O pior que poderia acontecer era perceber que tinha sido um erro. Tinha de arriscar, mas como? Tinha 2 hipóteses: ou saía da empresa onde estava, e entrava como estagiária de marketing numa outra empresa, ou mudava de área dentro da empresa em que trabalhava há 5 anos. A primeira hipótese não seria impossível, mas com 30 anos, alguns anos na área financeira, e sem experiência nenhuma em marketing, não era uma receita fácil de concretizar. A segunda hipótese era possível, mas não seria uma tarefa fácil: imaginem a estranheza de tal pedido dentro da empresa que investiu no meu desenvolvimento na área financeira durante anos.
Foi por estar há algum tempo na empresa e conhecerem o meu trabalho e capacidades, que acabei por me focar na segunda opção. Perguntei-me o que seria necessário para fazer acontecer tal mudança. Comecei por partilhar a minha vontade de mudar de área com a minha chefia direta e com o Director Financeiro – o mesmo que me tinha feito a tal pergunta sobre o meu futuro; depois partilhei com o Director de Marketing e com os Recursos Humanos. “Achamos que pode fazer sentido, mas neste momento não temos uma vaga aberta para ti. Prepara-te para quando essa vaga – gestora de marca - abrir.” – foi a resposta que recebi. A decisão de mudar é tão difícil que é um alívio quando é acolhida. Eram portas abertas, embora fossem completamente indefinidas. Quando se tomam decisões de mudança e se põe um plano em andamento, é díficil voltar a focar no caminho anterior enquanto se espera, por tempo indefinido, o surgimento de uma vaga que pode nunca acontecer.
Aproveitei o facto de conhecer muita gente na empresa e, enquanto esperava, pus um plano em andamento. Falei com pessoas que já tinham estado numa situação semelhante, conversei com pessoas da área de marketing para perceber que competências deveria desenvolver, e para me integrarem em alguns projetos, por forma a que fosse acompanhando e aprendendo. Tudo paralelamente ao dia-a-dia da minha função de controller de marketing. Tive a sorte de encontrar pessoas incríveis na minha empresa, que me fizeram coaching e me ajudaram neste caminho, desde recursos humanos, a chefia e colegas. Estive mais de um ano neste processo de aprendizagem, atrás desta mudança, mantendo as minhas funções e responsabilidades, sempre com um espirito positivo. Entretanto tinha terminado o mestrado em marketing e continuava tudo na mesma: o tempo passava, a vaga não abria e a mudança não acontecia. Fui contactada para uma posição dentro da área financeira: para ser o braço direito do GM de uma empresa de FMCG em Portugal. Era uma ótima oportunidade para mim em termos de carreira, de crescimento na área financeira, mas obrigar-me-ia a desistir e abandonar por completo os esforços para mudar de área, que tinham durado mais de um ano. Foi uma decisão difícil, mas rejeitei a oferta e continuei sem nada em concreto, a apostar no vazio, pacientemente à espera da minha oportunidade.
Foram mais alguns meses de desespero até que em 2018 finalmente a oportunidade surgiu: passei a gestora de marca dentro da minha empresa. Mudar de carreira é difícil, pode ser esgotante e é sem dúvida um desafio interno, com o nosso próprio ego, que nem sempre nos deixa confortáveis neste começar do zero. O facto de ter feito um mestrado em marketing e de ter apostado tanto em conhecimento, não me trazia de repente todo o know-how que já tinha na área de finanças que estava a abandonar, e na qual já tinha marcado a minha posição pelo meu trabalho. Quando se embarca nestas mudanças é preciso saber reconhecer as nossas limitações, estar disposto a aprender e querer muito ser bem sucedida. Tive dias mais difíceis, porque queria estar já a 100%, e às vezes não dava a resposta que para mim, seria a esperada. Hoje entendo que fazia parte do caminho. Todos desafios que tive, semana após semana, fizeram parte da minha aprendizagem e crescimento. Sou naturalmente positiva e focada em objetivos, e quando decidi esta mudança tinha um propósito claro: desenvolver o mais que pudesse as minhas competências na área de marketing.
Tive um desafio adicional, durante este percurso: fazer com que as pessoas que sempre me viram como financeira, me vissem como uma brand manager. Senti muitas vezes que não era ouvida por isso, mas fez parte da minha aprendizagem relativizar esses momentos e focar-me no que era importante: aprender, ouvir e não desistir. Nunca sabemos tudo, nem agora, nem quando tivermos 40 anos de experiência profissional. Acredito que uma postura de eterno ouvinte e aluno é a base para o sucesso, seja ele profissional ou pessoal.
Estou a fazer 3 anos na área de marketing. Arriscar, seguir a minha intuição e mudar de área, foi a melhor decisão que tomei! Quando já temos alguns anos de trabalho numa área e vamos evoluindo numa função, as mudanças tendem a parecer impossíveis, demasiado difíceis e arriscadas. Temos medo de mudar, de arriscar, de sair da nossa zona de conforto. Parece sempre que já é tarde. Não acredito em impossíveis, e a minha experiência é um exemplo disso. Ter claro o que queria, ser resiliente, focar-me no “fazer acontecer”, e estar disponível para, continuamente aprender, foi decisivo na concretização desta vontade! Tive ajuda, sim… mas começou tudo em mim! Começa tudo em nós!
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