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A história do Tiago e da HiJiffy, uma tech startup portuguesa

Atualizado: 8 de jan. de 2023


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Sou do Porto e cresci num seio familiar empreendedor e aventureiro. Tenho 5 irmãos que hoje estão espalhados pelo mundo: de São Francisco a Beijing não me falta família. Em criança não percebia a vida de stress que os meus pais por vezes levavam, nem o velho ditado de que "para comer a carne do lombo tem que se ficar com os ossos também". Os meus pais tinham as suas próprias empresas, cada um a sua, e o meu pai sempre confessou que se tornou empresário mais por necessidade do que por vontade – ao regressar de Angola não havia emprego, nem oportunidades. Por um lado, a força de vontade e de trabalho tinha que falar mais alto, por outro lado, era tudo ou nada. A necessidade trazia consigo um desespero catalizador.


Quando saí da faculdade, os objetivos mais populares entre os finalistas era conseguirem entrar na Sonae ou numa das Big Four, opções que estavam longe de ser apelativas para mim. Queria muito trabalhar com tecnologia e acabei por só fazer candidaturas para digital marketing. Quando entrei na Actual Sales, o meu primeiro emprego, estava longe de imaginar o quanto ela faria parte da minha vida até hoje.


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Na altura as faculdades focavam-se muito pouco em marketing digital (creio que hoje em dia é diferente) e, como tal, os meus conhecimentos na área não eram vastos, algo que mudou do dia para a noite nesta experiência. 95% da nossa facturação vinha de fora de Portugal, o que permitiu também perceber um pouco sobre o mercado internacional e como atuar para ele a partir deste nosso cantinho português. Foi na Actual Sales que criei e optimizei os meus primeiros funis de vendas, que construí e optimizei landing pages e trabalhei publicidade através de redes sociais. Foi lá que cresci, e subi, até passar a gerir uma equipa. Foi também onde cresceram duas pessoas muito importantes para esta história: o Pedro Gonçalves, matemático analista e o José Mendonça, engenheiro informático. Também eles tinham entrado ao mesmo tempo, e também eles estavam, 5 anos depois, a gerir as respectivas equipas. 5 anos na mesma empresa, na nossa geração, é muito tempo. Tinham-nos dado sempre oportunidades de progressão mas começávamos a chegar ao ponto onde não tínhamos mais por onde crescer e começávamos a estagnar. Continuávamos a gostar da área de tecnologia e em Portugal não tinhamos muitas opções. O surgir da Start Up Lisboa deu-nos a oportunidade de conhecer entrepreneurs e ideias diferentes e deu-nos a vontade de criar algo nosso. Não sei se sempre quis ter a minha empresa mas sei que o surgir desta vontade nunca me pareceu invulgar. Surgiu a ideia de criar um projecto que conseguíssemos conjugar com o trabalho - já tinhamos um pai de família entre nós e queríamos diminuir o risco. Começámos a reunir depois do trabalho a tentar fazer algum brainstorming.


Reuníamos e reuníamos mas à hora a que nos juntávamos já estavamos cansados do dia de trabalho e a cabeça mal funcionava. Passámos uns 6 meses em conversas que se revelaram pouco produtivas. Nesse entretanto, a empresa chegava a um momento de mudança, que traria mais responsabilidade aos três e envolveria muito investimento da nossa parte. Em nome da honestidade intelectual e de respeito pela casa que tão bem nos tinha acolhido, não podíamos aceitar. Estava na hora de sair, mesmo sem nada, e de dar a notícia às nossas famílias de que queríamos lançar-nos num projeto, numa aventura nossa. Dois meses mais tarde terminávamos a nossa jornada na Actual Sales e fomos diretamente para o WebSummit em Dublin. Continuo até hoje a dizer que fomos fazer turismo. Não tínhamos um produto nem uma visão, não tinhamos emprego. Fomos passear, fazer contactos, ouvir ideias. Foi lá que aprendemos mais sobre o conceito de MVP, sobre o que cativa os Venture Capitalists e foi lá que criámos uma rede de contactos que nos permitiu uma virada de capítulo interessante.


Começámos de forma de muito errada. Chegámos à conclusão de que gostávamos os três de tecnologia e de viajar, que tinhamos skills complementares, interesses em comum e que isso chegava para montar um negócio. Tinhamo-nos esquecido do básico: não tínhamos um problema, nem uma solução, dois factores essenciais para começar qualquer negócio.

Queríamos um produto, queríamos estar em tecnologia, queríamos vender B2C. Sentíamos um pain point: o tempo para planear uma viagem e forma arcaica como se tomam decisões o que nos levou a criar a Wonderoute: plataforma que definia o teu percurso de viagem através de um algoritmos que tinha em conta o tempo de viagem e dados locais para oferecer a melhor experiência.


Passámos uns 9 meses a desenvolver o produto sem falar com ninguém. Não consultámos pessoas com experiência, nem o cliente final. Quando concluímos o "MVP" - produto mínimo viável - e começámos a promover a Wonderoute, depressa descobrimos que a saturação do mercado elevava a 1€ o custo por clique, um custo elevadíssimo que comprometia a estratégia que tinhamos em mente. Iamos ter que investir o nosso próprio dinheiro para dar alento ao negócio. Foi nesse momento que percebemos que nenhum dos 3 acreditava o suficiente no produto para achar que teria conversão. Hoje conto isto a rir-me porque já está mais do que ultrapassado mas foi realmente um tropeção ridículo.


Tentámos transformar o produto em algo B2B. Percebemos depressa que os AirBnB também não se interessavam pelo produto e virámo-nos para os hotéis. Pensámos que poderiam poupar a recepção com as perguntas habituais sobre a cidade e onde ir. Conseguimos falar com um General Manager de um grande hotel em Lisboa que com três pontos nos fez mais uma vez perceber que continuávamos sem ter um produto: o nosso decisor final não se importava com o que diziam na recepção, acreditava que a maioria dos turistas já chegava com um roteiro feito e seria difícil adicionar a nossa solução ao site. Mais uma vez, estavamos a tentar curar uma dor inexistente.



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De volta à estaca zero. Decepcionados, tristes, e a viver das poupanças que tinhamos já há mais um ano. Foi nesta altura que o José começou a fazer umas brincadeiras – numa forma de brincar muito própria de programadores – com o facebook messenger. Confesso que, na altura, achei que estava a perder o foco mas depressa percebi que o facebook tinha acabado de lançar a possibilidade do chat bot. Pensámos, “e se isto fosse para os hotéis, a sugerir programas, que se calhar nem monetizam o facebook?”. Não íamos cometer o mesmo erro da última vez: a primeira coisa que fiz foi falar com o diretor geral de um hotel, novamente. Quando começo a explicar como funcionaria, o diretor diz-me “era bom era isso responder sozinho a todas as perguntas! Perguntas sobre pré-reservas, sobre o quarto, se o hotel tem piscina.” Fez-se luz, era disto que os hotéis precisavam! Mas havia um problema: já estávamos há um ano sem receber, cansados e com plena percepção de que à medida que o tempo passava, o risco aumentava. E se falhamos outra vez? Tomámos a decisão de que apenas arriscariamos continuar se conseguíssemos uma bolsa.


Candidatámo-nos a um programa de aceleração em Barcelona, conseguimos entrar e é assim que nasce a HiJiffy. Foi lá que conhecemos o Sébastien, que tinha vindo do Twitter e que decidiu investir em nós, o que tornou tudo mais real do que nunca e levou a que, em 2016, conseguissemos uma pre-seed (investimento) de 360 mil euros que foi o nosso virar de página.



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Percebemos que tinhamos que alargar fora do facebook, começámos a centralizar canais e a fazer a inteligência artificial responder a todo o tipo de questões. Os resultados da atenção imediata ao cliente impactaram direta e imediatamente o revenue dos hotéis, o que nos dava cada vez mais relevo. Fomos crescendo, melhorando o produto e passámos a ser 8 pessoas, já com plena consciência de que desta vez tinhamos criado uma solução para um problema, que cada vez mais era notório para hoteleiros.


Em Fevereiro de 2020, tive uma reunião com um investidor importante. Estava em causa conseguir novos fundos para melhorias do produto e crescimento da equipa para expansão. Tinhamos conseguido. O investimento estava fechado, tudo averbado e faltava apenas a papelada para ser finalizado, o que demorava sempre alguns dias, às vezes semanas. Sabíamos que não está fechado até ao assinar dos papéis mas, numa jornada destas, e numa equipa tão pequena, é quase impossível conter o entusiasmo associado a estes vislumbres de conquistas. Acredito que já possam imaginar o que se seguiu: na segunda semana de Março recebo uma chamada do investidor. Devido à pandemia que se instalava e ao caos generalizado, que afectou de imediato a indústria hoteleira, não podiam avançar.



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Foi um balde de água fria. No meio de uma pandemia, estávamos todos em casa, teria que dar a notícia através de um ecrã. Já eramos 8 pessoas, pessoas que acreditavam muito no produto e em nós, que tinham expectativas, vontade. Ter pessoas a meu cargo trouxe-me muito peso. Sem falar na perda do investimento, atormentavam-me outros pensamentos: o que iria acontecer aos hotéis? Por quanto tempo? Enquanto não fechei o plano de cashflow até ao fim do ano, não consegui desligar, não conseguia dormir. Íamos ter que reduzir custos e foi o que fizémos. A custo, reduzimos os salários de todos, fundadores e empregados. Mas foi o que nos permitiu manter a empresa. As pessoas que temos connosco foram fundamentais, todos excelentes profissionais que têm lugar em qualquer equipa e que acreditaram na empresa num momento difícil, o que diz muito delas e da relação delas com a HiJiffy. Temos um ambiente sólido e ultrapassámos todo o caos deste ano juntos. Se não fosse o extra mile deles todos os dias não teríamos conseguido.


Não só conseguimos como crescemos 140%. O investidor acabou por voltar em Junho e conseguimos fechar uma nova ronda de fundos em Novembro de 2020, a uma valorização maior do que a que teríamos conseguido em Fevereiro. Acredito francamente que tudo acontece quando tem que acontecer. Começámos de forma errada e sem dúvida que há muita coisa que podíamos ter feito diferente. Mas acredito, sinceramente, que o importante é começar e ir por onde se sabe e por onde se pode. Se não acontecer da maneira que se pensa, acontecerá de outra maneira qualquer.


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