Desde pequena que me entretinha horas a fio a desenhar e a pintar. No décimo ano, já no agrupamento de artes, tinha bem delineado seguir arquitetura.
E assim foi! Aos 18 anos entrei no curso de arquitetura no Porto e queria ser como o Siza, reconhecido arquiteto português. Durante o curso, era apaixonada por aquilo que fazia, podia ficar horas a fio depois das aulas mergulhada em maquetes, desenhos e deslumbrada com os livros de arquitetura.
Quando cheguei ao fim do mestrado não se avistavam grandes expectativas de futuro na minha área em Portugal, muita coisa tinha mudado e a crise não ajudava.
Sempre tinha tido vontade de ter uma experiência internacional e decidi emigrar. Escolhi a Suíça, não porque o país me seduzia especialmente mas sabia que a profissão era valorizada. Para quem, até à data, mal tinha posto os pés numa montanha, a Suíça era um lugar peculiar: culturalmente muito diferente e ao mesmo tempo muito internacional.
Sabia que ia ser difícil encontrar trabalho porque não falava nem francês nem alemão mas sabia que era possível. Peguei no meu Portfólio e no meu bloco de notas com umas frases escritas em francês, fiz uma lista de escritórios de arquitetura e fui bater de porta em porta aos escritórios em Genebra, Lausanne e Zurique. Ao fim de uma semana tinha sido contratada em Lausanne. Aproveitei a experiência mas o facto de ser jovem e estrangeira deu azo a alguma precariedade contratual e pouco depois o futuro levou para Genebra.
Para quem só gostava de ver a montanha através do enquadramento de uma janela, o pais revelou-se bastante interessante. Pouco a pouco comecei a gostar. Reinventei-me no estilo de vida: comecei a fazer caminhadas na montanha, a andar de bicicleta, a mergulhar no rio gelado à hora de almoço, aprendi a fazer ski e não dispensava um belo fondue no inverno. Em Genebra tinha tudo! Um emprego estável onde cresci rapidamente e era reconhecida por isso, amigos que eram e são como família, um apartamento confortável, um bom salário e estabilidade. Mas faltava me algo. Sentia-me incompleta. Culpava a Suíça, culpava a arquitetura e sentia-me angustiada. Foi então que percebi que nunca tinha realizado uma das coisas com que sempre tinha sonhado: ainda não tinha vivido numa grande metrópole.
A partir desse momento não demorou até decidir fazer malas e rumar a Nova Iorque. Era a cidade que tinha tudo o que eu sempre quis: movimento, liberdade, música, teatro, arte; cumpria todos os requisitos! Muita gente me dizia educadamente que eu era doida e que seria impossível porque é muito difícil conseguir visto. E foi difícil mas não foi impossível, aliás não gosto dessa palavra. Acho que com perseverança e foco, chegamos onde quisermos.
Fui a NYC três vezes à procura de trabalho. Enviei portfólios por email, por correio, fiz um mini portfólio em formato de postal, fui bater às portas e tenho a certeza que se ainda existissem pombos correio, os tinha utilizado. Sou como um polvo, quando quero algo coloco os meus tentáculos em todo o lado e estico, estico até alcançar.
Levei muitos nãos, fiz algumas entrevistas que terminavam sempre com a frase : «gosto muito do teu trabalho mas o teu visto causa um problema».
Foi duro e uma época de muita vulnerabilidade mas consegui! No fim de muita luta consegui que um escritório de arquitetura que me acolhesse. E aproveitei cada rooftop, cada teatro, cada musical, cada recanto daquela cidade incrível.
Foi ainda em Nova Iorque que decidi explorar outros territórios e fazer um workshop na New York Interior Design School sobre empreendedorismo em design, o que despoletou em mim um desejo antigo de me ligar mais ao marketing e à moda.
Pensei então fazer um MBA em bens de luxo. Fazia todo o sentido! A arquitetura de autor já não me fascinava e caminha-se para um futuro em que esta se aproxima cada vez mais de um produto. (In)felizmente, mesmo depois de muito estudo e muito trabalho, não entrei. É importante lembrar que falhar também faz parte, que nem sempre se consegue tudo mas que isso não é o fim do mundo. Eu falho bastante, levo baldes de água fria mas aprendo e procuro caminhos alternativos.
Não entrar no MBA foi um balde de água fria porque já tinha decidido percorrer um caminho que supostamente não passava pela arquitetura, o meu visto estava a acabar e tinha que tomar decisões estratégicas em pouco tempo.
Sabia que já não queria ser um Siza, que não queria trabalhar num escritório de arquitetura. Sabia que queria trabalhar numa marca, numa empresa internacional, de preferência numa marca de luxo. Mandei cv’s, cv’s e mais cv’s. Lutei contra o tempo mas o tempo venceu, o meu visto acabou e tive que deixar Nova Iorque.
Voltei para a Europa, fui a Londres e a Paris e mandei cv's para as sedes das grandes marcas de moda por todo o mundo. Foi muitas vezes desesperante, frustrante, mas tudo valeu a pena e fez sentido no momento em que me chamaram do maior grupo de luxo do mundo para trabalhar no departamento de arquitetura.
Ao mesmo tempo, surgiu a oportunidade de abraçar um projeto de moda ética e sustentável onde serei a responsável pelas marcas em território francófono e onde vou poder explorar todo o meu interesse em marketing, moda e design.
Agora vivo em Paris, falo francês fluente, conjugo dois trabalhos de sonho e estou a adorar a experiência. Ainda não sei qual vai ser o meu destino final mas sei que estou no bom caminho.
Claro que tudo isto não seria possível sem o apoio incondicional dos meus amigos e família que mesmo que não entendam muito bem os meus devaneios, estão sempre lá para me dar força e sabem que não acredito em impossíveis. Acredito no difícil e no complicado, mas não acredito no impossível. São tudo desafios. E eu sempre gostei de um bom desafio.
Margarida Leão, 32 anos, Paris
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