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A história da Patrícia, das Big Four à Despensa nº6


Criada em Lisboa, rumei a Coimbra para me licenciar em Gestão e ao Rio de Janeiro para uma experiência de intercâmbio que me mudou da cabeça aos pés. Quando voltei, ingressei num mestrado também em Gestão e depois de alguns estágios e de uma experiência como gestora de projetos numa empresa conceituada consegui o primeiro trabalho em que empregava diretamente os meus estudos numa das Big Four.


Comecei em consultoria e adorava o que fazia. Adorava o trabalho, as pessoas, o facto de ter conseguido entrar nas tão conceituadas empresas de consultoria. Passei um ano e meio na área mas estava super focada na carreira e achei que tinha que ganhar outras experiências. Pedi para mudar para auditoria, dentro da mesma empresa. Na altura, achei que ia gostar ainda mais do que consultoria. Mas as coisas não aconteceram como eu esperava e a minha visão do trabalho começou a mudar. Não me consegui adaptar a esta nova área, o trabalho ficou aquém das minhas expectativas. Entre a frustação do trabalho e outras que vinham com o trabalho, acabei por também não encontrar na equipa e nas chefias o ambiente de trabalho que até aí me tinha encantado tanto. O ambiente tóxico que encontrei pintou um cenário mais negro do que alguma vez pensei ser possível. Não tinha capacidade para lidar com a insegurança e inaptidão das chefias na altura, levava-as de forma mais pessoal do que provavelmente deveria. Acabei por perder a motivação e pior, deixei-me ir completamente abaixo. Entrei em esgotamento, precisei de acompanhamento psiquiátrico e ouvi a médica dizer-me vezes sem conta que eu tinha de sair daquela empresa o mais rápido possível. Não era a primeira vez que ouvia histórias de esgotamento mas nunca pensei que me viesse bater à porta. Tudo acontece por um motivo.



Fora do trabalho sempre tinha tido uma obsessão por desporto e vida saudável. Eu e o meu namorado falávamos muitas vezes em abrir uma pastelaria saudável, segundo o conceito paleo, pois havia uma grande lacuna no mercado relativamente a pequenos almoços e lanches saudáveis. Para além disso, tínhamos o bichinho empreendedor e queríamos muito ter a nossa empresa. Eram sonhos e conversas, algumas até chegavam ao papel mas há sempre um enorme medo de saltos no escuro e nós não eramos excepção. Chegar ao meu limite no trabalho foi certamente o pontapé para avançar. Entrar em esgotamento levou o meu namorado a sugerir com firmeza que estava na hora. Na nossa hora. Começámos a desenvolver o nosso projeto. Mas nada se faz de um dia para o outro, não podia simplesmente despedir-me. O projeto precisava de investimento e demorou um ano até termos tudo pronto e eu poder finalmente fechar aquela porta. Tinha medos que não acabavam. Medo de como iria correr, medo da aceitação e medo da reacção dos meus pais. Tanto receio para nada, os meus pais não só ficaram felizes como me deram todo o apoio. Senti (e ainda sinto!) medo da parte deles pela vulnerabilidade que um negócio próprio traz, mas acredito que seja uma coisa normal de pais. Tive muito apoio da esmagadora maioria dos amigos e conhecidos. Senti por vezes – raras vezes - alguma desconfiança, como que uma descrença de que fosse conseguir. Por sorte nunca me importei muito com a opinião de conhecidos o que nestes momentos é fulcral para seguir em frente.


Nasceu a Despensa nº6, um projeto pensado durante anos com todo o amor do mundo e empulsionado por muita luta. Tudo era novo para nós. Nenhum de nós alguma vez tinha tido experiência nesta área. Para apalparmos terreno, começámos com um soft opening e só 2 meses mais tarde fizemos a inauguração oficial.


Na semana em que inaugurámos oficialmente saímos na Time Out, NIT e Observador, tudo de uma só vez. Wow pensam vocês! Caos, maior erro de sempre, conto-vos eu. Numa questão de dias passámos de não ter clientes para ter Lisboa inteira à nossa porta (ou pelo menos foi a sensação que tivemos). Foi um fim de semana aterrador, não estávamos preparados. As filas eram constantes, a loiça acumulava por todo o lado. Éramos só dois a atender e não conseguíamos dar vazão às pessoas, quanto mais à loiça. Tivemos clientes à espera mais de uma hora pelos pedidos. Exasperados, e com razão, gritavam, reclamavam, enchiam o Zomato de criticas negativas. O movimento foi de tal ordem que os produtos foram acabando, as matérias primas também e às 14h estávamos a fechar a porta. Desmoralizados, esgotados e completamente em pânico. “Teria sido o fim da Despensa sem sequer ter começado? Como vamos dar a volta a isto?” Cometemos muitos erros. Tantos erros. Mais erros do que vos conseguiria contar aqui. Mas aos poucos fomos ganhando experiência, reforçando a equipa e as coisas foram ao seu lugar. Hoje em dia temos um negócio sólido, que sofreu, como todos, em 2020 mas olhamos para trás e rimo-nos desta situação e de muitas outras que fizeram parte deste processo de evolução. Claro que continuamos a cometer erros e a crescer com eles, mas sentimo-nos muito orgulhosos por já ter chegado aqui.


Foram várias aprendizagens ao mesmo tempo. Quando abrimos a Despensa n.6 como sócios namorávamos apenas há 2 anos. Tudo o que ultrapassámos com o negócio, ultrapassámos na relação de sócios e namorados. Continua a ser o Pedro que nos levanta nos maus momentos e que nos puxa para continuar, não poderia ter um sócio melhor - formamos uma equipa do caraças! Formamos uma equipa tão boa que casámos no início deste ano, já com 3 anos de Despensa. Quem tem um negócio próprio sabe o quanto pesa a responsabilidade de ter gente dependente de nós, de ter rendas e contas para pagar. É uma responsabilidade muito mais acrescida face a trabalhar para outrem mas tem um lado muito positivo: a liberdade de mandarmos em nós próprios, de fazermos os nossos horários e regras, e a alegria de vermos o nosso trabalho resultar diretamente no crescimento do “bebé”. Não tem preço.




Se me permitem a sugestão: não fiquem agarrados a trabalhos que vos deixam esgotados ou infelizes só para agradar outros. Não deixem morrer aquelas ideias que tiveram. Não tenham medo das críticas, vai haver sempre alguém a criticar independentemente do que façam. Ouçam conselhos, não ouçam almas destrutivas, nem críticas de quem não tem a vossa coragem e não a aceita. Nem tudo é um mar de rosas, mas se estiverem certos de que é isso que vos vai fazer felizes e se acreditarem que é esse o vosso caminho, força! Prometo que compensa.



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