Troquei a área educacional (professora de português e inglês, e coordenadora de escola) pela área de Recursos Humanos, no mundo corporativo, em busca de um salário melhor. Consegui tudo o que seria considerado sucesso: ganhava muito bem, trabalhava numa grande empresa e minha carreira teria futuro. Mas, aos 30 anos, em época de crise no Brasil, me sufocava aquela forma de viver: trabalhar a semana inteira, longas horas, sem vida. Passar a semana com foco no final de semana, passar o ano inteiro focando nas férias – sempre curtas. Comprar mais um sapato, um livro ou qualquer outra coisa só porque eu merecia, afinal, trabalhava muito! Viver de compensações. Me vi cansada de me encaixar numa vida de valores que, para mim, tinham pouco sentido.
Então, tracei um plano. Troquei de empresa, fiz curso de teatro e muita terapia. Sabia que queria dar um tempo na vida profissional e comecei juntando dinheiro. Foi no meio desse caminho que a minha mãe faleceu de maneira inesperada, me deixando super perdida. Impossível não reforçar o pensamento de todo aquele tempo passado em frente a um computador, trocando vida por dinheiro. Esperei até me reerguer e coloquei meu plano em prática.
Quando anunciei a todos o que faria - deixaria o emprego pra descansar por um tempo na Bahia – uns me perguntaram se eu iria gastar a herança da minha mãe (?!); outros estavam preocupados de como eu viveria quando meu dinheiro acabasse, sem pai/mãe e sem marido como seria?; uns acreditavam que eu realmente estava enlouquecida, pois como jogar para o alto um bom salário, numa boa empresa, em momento de crise? Até hoje há grandes amigos aguardando o meu retorno à vida que, para eles, é a normal e real.
No início eu não sabia como seria a minha pausa. Não tinha um plano certo, fixo. Eu também só conhecia o mundo corporativo, a competição para subir a escada da empresa. Mas me lancei em minha aventura, na minha pausa de mundo. Bastaram os primeiros tempos na Bahia para mudar a minha visão e o meu estilo de vida. Me tornei de imediato mais minimalista, uma consumista mais consciente, passei a me alimentar melhor e praticar exercício. E isso era só o início.
Não queria parar por aí. Pesquisei. Sabia que poderia arrumar empregos temporários, voluntariar para economizar, me organizar financeiramente e seguir viajando. Sabia que se fizesse tudo direito poderia aumentar meu tempo de parada para refletir o que queria de fato - afinal, existe um mundo inteiro de oportunidades pra quem está afim de conhecê-lo.
Então fui. Depois de 6 meses de Bahia trabalhando num hostel, passei 18 meses rodando a Europa, usando couchsurfing, voluntariando em hostels e vinícolas, fazendo trabalhos de temporada. Quando a saudade apertou demais, voltei ao Brasil antes de seguir pro Sudeste Asiático, onde ficaria por um ano usando as mesmas formas de sobrevivência.
É diferente viajar assim. Me envolvo, paro, estudo, trabalho, vivo. Mas do meu jeito. Estou livre para ir ou ficar a qualquer momento. Encontrei muitos perrengues pelo caminho: solidão, problemas técnicos com cartões de banco, dinheiro perdido, caminhos difíceis, desilusões amorosas. Mas me surpreendi a cada passo. Com os lugares, com as pessoas, com o inesperado.
E é assim que tenho vivido os últimos 3 anos: recalculando rotas a todo o momento. Não tem retorno ao “normal”. Eu posso até voltar ao mundo corporativo, mas não voltarei nos mesmos moldes. Terei outras ideias, outros desejos. Sucesso, pra mim, já tem um significado diferente.
Nesse momento estou me preparando para voar para a China, onde pararei um pouco dando aulas de inglês. Enquanto isso, estou estudando planos para empreender com as minhas irmãs na nossa cidade natal; desenvolvendo rotas de viagens para um site russo e montando vídeos para ajudar aspirantes a viajantes do mundo a viver seus sonhos e aplicando Healing em pessoas que buscam ajuda.
Se ainda estivesse trabalhando longas horas naquele escritório, essa vida me pareceria absurda, impossível. A ideia de empreender por exemplo, nem teria me ocorrido. Eu estava muito focada no lucro de outros para pensar num projeto meu.
Hoje, projetos não faltam e a quantidade de contatos que surgem durante a caminhada é impressionante. Experienciar que existem várias formas de vida e de trabalho foi libertador de tantas formas que não consigo explicar.
Esse é um resumo da minha mudança, da minha trilha, que me deixa muito completa e feliz. Qual é a sua?
Renata, 36 anos, São Paulo, Brasil
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