
Estudei psicologia no Porto. Apaixonei-me pelas neurociências durante o mestrado, e decidi que me queria dedicar à investigação científica.
Depois de acabar o curso, a maioria dos meus colegas de Faculdade aceitaram propostas de trabalho não-remuneradas, promessas de contratos não cumpridas, investiram dinheiro em múltiplas pós-graduações e formações, com a esperança de que esses anos de sacrifício resultassem numa perspetiva de carreira digna – no futuro, sempre no futuro. Quanto mais observava estes futuros desejados, jamais alcançados, mais segura me tornava de que não era esse o percurso que queria para mim. Para mim era - e continua a ser - inaceitável trabalhar sem receber um salário, e sem perspetiva de progressão e estabilidade. Principalmente na área da investigação científica, em que não existia - nem existe ainda - um programa estabelecido de carreira de investigador. Quando decidi dizer “não” à precariedade fui alertada para o “grande risco” que estava a correr. Suponho que se referiam à potencial falta de oportunidades de trabalho, quando voltasse a Portugal.

Falou mais alto a procura por reconhecimento profissional e, assim que acabei o ano de estágio profissional para integrar a Ordem dos Psicólogos Portugueses (no qual recebia apenas um subsídio de almoço pelo meu trabalho a tempo inteiro), parti para o Equador ao abrigo de um projeto internacional de intervenção comunitária. Fui acolhida pela família que dirigia um colégio comunitário, numa das regiões mais pobres do país, e senti que o trabalho que desenvolvi fez a diferença. Esta primeira experiência foi tão especial, que no final de três meses, aceitei a proposta de trabalhar profissionalmente por mais um ano nessa mesma instituição.
No final desse ano, fui convidada para trabalhar como docente de Neuropsicologia em duas Universidades. Durante o período em que trabalhei como docente, fui também promovida a Coordenadora de Investigação da Faculdade de Psicologia. Quando vi que com 25 anos já era docente universitária entendi que tinha tomado a melhor decisão da minha vida ao sair do país.
Depois de três anos de América do Sul, e com a bagagem cheia de energia e motivação para aprender mais, decidi que era tempo de mudar. Concorri a um visto para a Austrália e consegui. Daí a conquistar a posição de trabalho que tenho hoje, foi um passo. Três meses depois de chegar a Sydney (e de desafiar a minha criatividade para me manter ocupada e com a conta bancária acima dos $0 – dando aulas de português, trabalhando num bar) comecei a trabalhar como Docente Auxiliar (também conhecido como “Tutor”), em duas Universidades privadas, o que me permitiu conhecer como funciona o sistema académico neste país.

Seis meses depois comecei a trabalhar como investigadora num instituto de investigação médica da Universidade de Sydney, onde continuo a trabalhar hoje, com 30 anos. No decorrer destes dois anos a trabalhar neste instituto, já fui promovida a Coordenadora de dois projetos de investigação, ganhei um prémio por um dos estudos que estou a liderar, fui nomeada pelo instituto para patrocínio do meu visto profissional e ganhei uma bolsa de doutoramento. Estou a aprender imenso e valorizo muito a confiança que a minha equipa e a minha instituição depositam em mim. O reconhecimento não tem preço.
Obviamente, sinto falta das pessoas mais importantes da minha vida: a minha família e os meus amigos de longa-data. Contudo, não penso voltar a viver em Portugal nos próximos anos – ainda tenho muitos objetivos por cumprir por cá, e adoro a qualidade de vida que é possível ter aqui; já não prescindo de viver a 2 minutos a pé da praia, do bom clima, da cultura de trabalho flexível, do poder de compra e dos salários justos, da segurança, da organização. Para além disso, poder proporcionar experiências às pessoas de quem mais gostamos é das coisas mais gratificantes que posso fazer na vida. Viver em Sydney já me permitiu levar a minha família e amigos a mergulhar na Grande Barreira de Corais, voar num helicóptero sobre o pacífico, ver tartarugas marinhas a nascer, nadar com baleias e tubarões, acampar com cangurus, assistir a uma ópera na icónica Opera House… e a lista poderia continuar.
Foi também na Austrália que descobri uma das minhas maiores paixões: o mergulho. Aproveito-o para vos deixar com as palavras dos instrutores e digo-vos: não tenham medo – fixem o olhar no horizonte e dêem um passo de gigante para a frente!

Ana Rita Barreiros, 30 anos, Investigação Científica
Parabéns Rita! Do teu primeiro estudante de português na Australia 😊. Adorei a tua história.