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A história do Gabriel, do IMF à Coreia do Sul

Atualizado: 26 de fev. de 2021


Cursei Relações Internacionais no Rio de Janeiro e trabalhava em uma prestigiada universidade carioca no setor de parcerias internacionais e intercâmbio estudantil. Como em muitos outros lugares do mundo, no Rio o profissional de Relações Internacionais não é valorizado e tem dificuldades em encontrar o seu lugar ao sol. Pois bem, para piorar, o diretor da empresa onde eu trabalhava também não via importância em ampliar e investir na minha área dentro da universidade e consequentemente pouco aumentava o meu salário. Eu gostava do meu emprego e das pessoas com quem eu trabalhava, mas a falta de reconhecimento começou a incomodar e a tornar-se frustrante.


O descontentamento com a minha situação de emprego foi importante, mas o fator decisório de mudança foram os caminhos que tomaram a minha vida amorosa. Eu estava em torno dos meus 24 anos de idade e em uma relação séria com um americano que morou no Rio por seis meses. Depois de um ano de relacionamento a longa distância e muitas viagens entre Estados Unidos e Brasil, resolvemos morar juntos. Com o tempo nos casamos e me mudei para Washington. Mudar do Rio para Washington não é fácil. Imagine o choque cultural, o papo sempre sério e político. Mas com o tempo você conhece pessoas com quem tem mais em comum e a cidade torna-se um novo lar.



Em poucos meses fiz entrevistas no Fundo Monetário Internacional (FMI) e na Marinha do Brasil. Fui aprovado nos dois processos seletivos e optei pelo FMI, onde trabalhei até Outubro de 2019. Dentro do FMI passei por diferentes departamentos e escritórios, e posso dizer que criei oportunidades muito interessantes conseguindo participar de muita coisa legal. Trabalhar no FMI foi uma das melhores experiências da minha vida profissional e o emprego onde fiquei por mais tempo, quase cinco anos.


Entretanto, quando finalmente estava estável em DC, com emprego e tudo certo, o meu parceiro mudou de emprego e teve que se mudar para Lima, Peru, por dois anos. O que fazer? Sair de um emprego que você gosta, onde eu estava sendo promovido para ser desempregado no Peru? Em um primeiro momento achei que depois que organizasse a documentação que precisava, eu conseguiria ir, mas o momento não veio e acabei ficando novamente em uma relação a distância durante dois anos entre DC e Lima. Após esse período, ele conseguiu voltar aos Estados Unidos, apenas para descobrir pouco depois que teria que se mudar para a Coreia do Sul em meados de 2020, novamente a trabalho.


O fuso horário seria extremamente complicado. Então comecei a buscar opções de emprego e a fazer o processo seletivo para um emprego na embaixada dos Estados Unidos em Seoul. Por fim, Passei no processo, mas teria que fazer aulas do idioma em tempo integral por 8 meses. Aceitei o desafio e cá estou fazendo aulas de coreano todos os dias. Mudança brusca novamente, mas estou de coração aberto para mais essa experiência.

Infelizmente na vida, não funciona tudo em perfeita harmonia. Na época em que sai do Brasil, minha avó não estava bem de saúde e foi difícil me afastar e acompanhar o fim da sua vida a distância. A tecnologia ajuda muito hoje em dia, mas não é a mesma coisa do que estar presente. Você vai perder momentos especiais em que gostaria de estar junto ou compartilhar com a família. Além do afastamento familiar, foi difícil sair de um emprego estável, com benefícios como plano de saúde e transporte em troca do incerto. Eu realmente acreditei que seria capaz e que encontraria o meu caminho sem saber ao certo qual seria esse.


Eu li um artigo um tempo atrás que dizia que pessoas de diferentes culturas tendem a agir de forma diferente quanto a busca de mudanças de carreira. Nesse artigo, alguns países da América Latina e dentre eles o Brasil era mencionado como um dos lugares onde culturamente ainda existe esse medo de deixar um emprego mesmo quando não se está satisfeito, quando se trata de sair da zona de conforto em busca de algo novo. Pois eu posso confirmar que realmente é como a maioria das pessoas se sente e foi o que ouvi de grande parte das pessoas.


Depois de tanta mudança na vida pessoal e profissional, hoje me sinto realizado com as escolhas que tomei. Sair da zona de conforto me fez crescer e ver novos horizontes e oportunidades. A vida acontece e mudanças são inevitáveis, aprendi que é preciso aceitá-las e encará-las com mente aberta e de forma positiva pois elas continuarão a vir, elas nos fazem crescer. Ainda não cheguei ao fim e não acredito que haverá um fim, estou constantemente vivendo e aprendendo. Para mim é essencial estar disposto a tomar riscos quando novas portas se abrem pois essa dinâmica é uma das coisas interessantes da vida.



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