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A história do Nuno, um engenheiro empreendedor

Atualizado: 26 de fev. de 2021



Nasci em Viseu, estudei em Coimbra e, assim que acabei os estudos em engenharia, fui trabalhar para uma empresa sediada no Porto, em que tive oportunidade de acompanhar obras pelo país inteiro. Nos 4 anos em que estive nesta minha primeira experiência profissional, aprendi muito e evoluí continuamente, tendo-me sido sempre permitido um ganho de responsabilidades maior a cada ano. Quando surgiu a possibilidade de me lançar para um desafio em Angola, onde iria montar a delegação da empresa do zero e ser responsável por toda a estrutura, estava radiante e extremamente motivado. Era um projeto em que acreditava, fui, e em pouco tempo conseguimos boas oportunidades de negócio. Quando a empresa decidiu abandonar os planos em Angola fiquei desapontado, tinha apostado muito naquela fase da minha carreira e ao regressar a Portugal e ser encaixado na estrutura existente seria impossível manter o grau de responsabilidade a que já tinha chegado. Foi quando chegou a altura de procurar uma empresa maior e tentar subir noutra estrutura.



Pouco tempo depois, surgiu a oportunidade de entrar na maior construtora do país. Estava em êxtase. Para qualquer apaixonado da engenharia, o cargo em que entrei, como diretor de projeto, difícil de conseguir, e numa empresa de renome, era, sem dúvida, um sonho. Foi um dos momentos mais felizes da minha carreira, estava numa empresa internacionalmente reconhecida. Mas já diz a sabedoria popular “cuidado com o que desejas”. Depressa aquilo com que durante anos tinha sonhado se tornou um pesadelo. Apesar de ter aprendido imenso e evoluído como profissional, a forma de trabalhar, de lidar com as pessoas e algumas decisões éticamente questionáveis, faziam-me ponderar diariamente a minha situação. A pressão diária e desmedida revelava-se sempre desnecessária. Não partilhava muitas das visões da minha chefia direta e, mais de um ano meio depois, não foi de estranhar quando chegou o momento de ruptura final. Não me renovaram o contrato, algo sempre difícil de digerir por muita confiança que tenhamos em nós próprios. 18 meses parecem pouco tempo ao fim de uma carreira, mas este período pesou tanto, que é difícil vê-lo como passageiro. Estava mal habituado, acostumado a um percurso de vitórias, de uma evolução contínua, sem qualquer problema nas transições da escola para a faculdade, da faculdade para o mercado de trabalho e no crescimento dentro das empresas, o que facilitou um crescer constante da minha ambição profissional. Esta experiência desgastou-me. Foi tão estranho como uma das experiências que mais desejei acabou por ser a que mais me atirou ao chão. Saí pela porta pequena, mas como diz o ditado, fecha-se uma porta e abre-se uma janela.


Durante a minha procura de emprego que se seguiu, um antigo cliente alertou-me para o facto de que estavam a abrir projetos, perguntando-me se eu não teria interesse em concorrer com empresa própria. Confesso que até tal sugestão ter tido lugar, tal coisa não me tinha passado pela cabeça. Acontece que a procura de emprego não revelava opções interessantes e aquela sugestão foi tomando espaço, apesar de toda a instabilidade que é concorrer a projetos.


Decidi arriscar e concorrer. Tinha 28 anos e nascia a minha unipessoal, a Gesconsult, com o intuito de responder a um desafio específico deste cliente. Ao mesmo tempo acabaram por surgir algumas propostas de emprego, o que me levou a consultar alguns amigos e familiares sobre esta decisão. Lembro-me de ter falado com a minha mãe que me questionava se seria sensato trocar o certo pelo incerto. Ao que lhe perguntei “mas mãe, se correr mal não me dás cama e sopa se for preciso?”. A verdade é que ter onde cair, ter um suporte familiar, faz com que qualquer risco seja sempre mais calculado, controlado. Não tinha filhos, não era casado e decidi que aquele era o momento de arriscar. Acreditava em mim como profissional e nas minhas capacidades como engenheiro e sabia que, se tudo corresse mal, conseguiria um emprego noutra empresa. Já tinha montado um CV que me permitia alguma confiança e acho que isso foi fulcral.



Há uma pressão muito grande para o sucesso, as pessoas acham que tudo tem que correr bem, sempre. E não é verdade. As coisas podem, e às vezes devem, correr mal. O importante é usar essa experiência da forma certa e continuar. Foi um evento negativo que me conduziu onde estou hoje, já lá vão 7 anos de Gesconsult. Olho para trás e vejo inúmeras decisões que se fosse hoje tomava de forma diferente. Mas olho numa perspectiva de crescimento e autocritica, com plena consciência de que faz parte e nos ajuda a crescer. A Gesconsult foi a melhor opção profissional que fiz na vida. Hoje somos mais de 10 pessoas e desde que abrimos que mantivemos um crescimento consistente. Este ano, apesar de um crescimento mais lento, conseguimos consolidar a nossa presença no mercado, somos reconhecidos na área e tudo isto me deixa imensamente orgulhoso de todo o percurso, do trabalho desenvolvido, dos nossos colaboradores, da forma como trabalhamos. Gosto de perceber a quantidade de pessoas e a diversidade de clientes com os quais crescemos e que pemitiram este sucesso. O nosso primeiro cliente ainda é um dos nossos maiores clientes e dá-me um enorme prazer continuar a trabalhar com quem nos ajudou a traçar este percurso desde o primeiro momento.


Para quem pensa abrir um negócio próprio, ou quem esteja descontente num trabalho, diria: não tenham medo de arriscar, não sintam uma pressão desmedida para ter sucesso. Correr mal faz parte. Foi o facto das coisas correrem mal que me levou a estar hoje aqui, a contar a minha história, cheio de orgulho no que criei. Sigam a vossa intuição e se acharem que é o momento para ir e fazer, vão. Se não correr bem, algo se aprende, se correr bem, mesmo assim amanhã vai correr melhor. O que está em jogo, qual é o real risco? Sigam aquela intuição, aquela voz interior que tantas vezes não sabemos explicar, ouçam-na. Acredito piamente que nos leva, geralmente, no caminho certo.

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